Desde criança essa época do DIA DOS PAIS era melancólica pra mim. Fui criado pela minha mãe, sem a presença do meu pai. Na verdade só vim conhecê-lo quando eu tinha oito anos. Na minha escola, as outras crianças sempre perguntavam pelo meu pai, e eu dizia que não o conhecia, portanto, não tinha um pai. Depois que o conheci, continuei órfão. Isso por que não consegui criar um vínculo com aquele homem que abandonou a minha mãe ao saber da gravidez dela. Você saber que seu pai não queria que você nascesse é barra.
Aparentemente o perdoei por esses anos de ausência. Mas no fundo, como um bom escorpiano que eu sou, guardo uma mágoa por ter sido, de certa forma, renegado. Hoje ele é casado e tenho dois irmãos, fruto do segundo casamento dele.
Então, essa época do Dia dos Pais, fico imaginando como seria o Thiago pai. Já decidi que não terei descendentes. Filhos, de jeito nenhum. Não tenho jeito para ser pai. Mas mesmo tendo toda essa certeza (e creia, eu tenho certeza!), eu as vezes fico me imaginando sendo pai. Levando meu filho na escola, ao médico, ao parque, à praia... Fico me perguntando se eu seria capaz de amar aquele filho do jeito que ele merecia. Um dos meus grandes medos é não amá-lo suficiente. Observei pais e filhos esses últimos dias. Será que eu seria um bom pai. E se eu me tornasse pai, como seria esse meu filho. Fiquei a imaginar os olhos, a boca, o rosto, o cabelo, as mãozinhas pequenininhas...
De repente eu já me vi no hospital, diante daquela parede de vidro, vendo meu filho ali, dormindo tranqüilo, horas depois de nascer. Penso nesse instante que estou ali para apresentá-lo ao mundo.
- Veja meu filho, veja meu campeão, esse é o mundo que te espera cá fora. É um mundo esperando pra ser conquistado. E você vai conquistá-lo.
Um novo salto no tempo e estou em frente à escola, a convencê-lo a entrar. Ele me diz que tem medo. Olho nos olhos dele e lhe digo que tenha coragem e enfrente esse lugar novo que vai lhe trazer coisas maravilhosas. Abro as portas de um mundo novo pra ele.
Vejo um adolescendo inquieto, rebelde, com uma série de questionamentos pulsando dentro dele. Seus olhos brilham quando te entrego a tão sonhada guitarra, que será responsável por muitas das minhas futuras noites de insônia...
O telefone toca. Ouço do outro lado, sua voz ofegante: - Pai! Passei no vestibular, pai!
O tempo passa. Caminho apressado pelo corredor do hospital. Com minha memória já não tão boa, acabo me confundindo com esses corredores sempre iguais. Nisso, uma mão pousa no meu ombro. Quando me viro, me deparo com o rosto ansioso do meu filho, que se abre num sorriso e diz: - É menino, pai!
Meus devaneios acabam agora. Penso que talvez eu seja um bom pai. Um dIa, talvez, quem sabe... Mas só quando eu conseguir me livrar de muitas mágoas que eu ainda carrego, é que poderei amar um filho como eu acho que ele deve ser amado.
Texto muito Bonito. Parabéns !!!
ResponderExcluirtexto lindo e emocionante, Thi... parabéns, queridão!
ResponderExcluircaramba thiago, que texto lindo!
ResponderExcluirThiago blz?
ResponderExcluirser pai é um presente. viver tudo isso que vc escreveu e muito mais é algo maravilhoso e muitos estão perdendo não terem coragem, não assumirem suas responsas, porque é sim uma grande responsabilidade cuidar e se envolver. Há um grande estrago na sociedade pela atitude tomada pelo seu pai e isso precisa ser mudado; não querer ter filho por medo ou por alguém já ter errado com você são justificativas medrosas. Há possibilidade de se fazer melhor e seu ser está inclinado a isso...só não pode fugir e viver culpando a si ou aos outros, ainda que sejam as mais bem construídas desculpas. Cristão que sou, vejo na paternidade um grande presente; é aprender e ensinar como Deus tem sido um grande Pai para mim; estou lutando para refletir isso e é bom demais! grande abraçooo!!!
Nossa! Me emocionei com suas palavras.
ResponderExcluirSei o que você sente. Meu pai não participa da minha vida, sou órfã de pai vivo. Meus pais se separaram quando eu tinha 9 anos, hoje eu tenho 19, há 10 anos não o vejo, e por um grande tempo nem nos falamos por telefone mais. Mesmo antes da separação eu não o sentia como pai, mesmo assim, até meus 13 anos o esperei, pra me fazer uma visita, um abraço, guardei as cartinhas que fazia na escola... mas ele nunca veio. Hoje é uma dor que eu guardo escondida, dói pouco hoje.
Se um dia eu for mãe, quero que meu filho tenha um pai, como este que você falou que quer talvez ser um dia, este é o pai que eu sonhei ter.
Desculpa o desabafo, rs.
Um beeijo*