
Quando criança, Íris Brüzzi, a Beatriz de “Ribeirão do Tempo”, da Record, subia em árvores para chupar manga e brincava como menino em Marataízes, no Espírito Santo. Da infância feliz no litoral capixaba ao brilho de vedete na cidade do Rio de Janeiro, a jovem tentou ser desde caixa de uma loja de departamentos até aeromoça, porém sem sucesso. “A gerente da casa disse ‘nossa, ela é linda, vai ficar na seção de perfumaria’. Não fiquei porque não sabia fazer conta de porcentagem. No outro trabalho, o general que me entrevistou disse que eu vomitava muito e que eu tinha horror de avião”, lembra aos risos.
Não demorou muito para Íris ser “descoberta” artisticamente. Nélia Paula, vedete de Niterói, lembrada como o par de pernas mais belo do país, identificou na garota de corpo curvilíneo e rosto encantador um potencial a ser destacado: o teatro de revista. “Quando eu estreei, em 1953, era muito feio uma pessoa trabalhar em teatro de revista. Você era tido como marginal ou mulher da vida”, explica.
No caso de Íris, a família chegou a ficar quase três anos sem falar com ela, alegando que a garota tinha se perdido. De acordo com a atriz, foi justamente o contrário: ela se encontrou. Os retratos da parede que anteriormente foram retirados voltaram ao lugar quando Íris casou com o produtor e autor teatral Walter Pinto. “Era bárbara a importância do Walter. Voltaram as fotos e até quem não era parente passou a ser”, revela. Íris usa uma metáfora para explicar sua estreia na TV. “A vida é feito uma escada, se colocar um pé no primeiro degrau e no último você se rasga todo, se machuca e não sobe”, avalia Íris.
O convite para o programa “Teatrinho Trol”, ou “Vesperal Trol”, veio por meio do diretor Flávio Sabbagh. A produção era um dos maiores sucessos em meados dos anos 50. “Nós ensaiávamos a semana inteira e ia ao ar domingo ao vivo. Eram as duas coisas mais importantes, o Grande Teatro Tupi, que era a Fernanda Montenegro, o Sérgio Britto e outros, e o Grande Teatro Vesperal Trol conosco”, explica. Outro motivo de orgulho para Íris foi o título de “Certinha do Lalau”, famosa lista de mulheres bonitas dos anos 50 organizada pelo influente cronista Sérgio Porto, sob o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta. “Eu dizia: ‘Sérgio, já tenho filha de 10 anos’. E ele respondia: ‘para mim, você será sempre Certinha do Lalau’”, conta Íris que esteve na seleção por mais de uma década.
Recordar os anos de glória não é um sinal de saudosismo para a carioca de voz firme e personalidade forte. Aos 75 anos de idade, Íris diz só sentir saudade dos grande amigos que já faleceram, a exemplo do ator Grande Otelo, morto em 1993, que era um dos primeiros a chegar nas festas de seus filhos. “Mas eu não fiquei sem amigos”, ressalta ela, que adora estar rodeada por gente de todas as idades. “Eu costumo dizer: ‘se juntar um chá com quatro pessoas de 75 anos é um túmulo, não é um lanchinho’, mas se um tem 30, outro 28, é muito bom”, completa. Íris não tem problema em ser uma mulher “over”, uma mulher feliz pela família, amigos atuais e memórias. A atriz tem orgulho de tudo isso e toda sua carreira. São quase 50 novelas e filmes ao longo destes 57 anos como atriz. “Meu currículo é lindo”, avalia. No ar em “Ribeirão do Tempo”, como Beatriz, viúva de um político, Íris adora o jeito centrado da personagem que, segundo ela, terá uma grande mudança nos próximos capítulos. “Faço uma mãe louca pelo filho capaz de encobrir até mesmo um assassinato”, justifica.
Ela tem planos de transpor toda sua história em um livro editado pelo autor Aguinaldo Silva. Os cartunistas Chico Caruso e Ziraldo ficarão com a capa e contra-capa. A orelha ficará a cargo da atriz Bibi Ferreira, o prefácio será do autor Silvio de Abreu, haverá uma dedicatória ao ator Guilherme Karan e toda a renda será revertida para o Retiro dos Artistas –instituição que cuida de artistas idosos que fizeram sucesso no passado. “Envelhecer é normal. Você só envelhece porque viveu muito e para isso é preciso que você viva bem, seja feliz, rodeada de amigos. Eu sou super festeira”, finaliza.
Gabriel Sobreira
UOL Televisão
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