sexta-feira, 18 de novembro de 2011

MANIA DE PIRAÇÃO – PERDENDO AS COISAS PELO CAMINHO



Tem pessoas que de tão distraídas que são só faltam perder a cabeça. Conheço muita gente assim, aliás, eu próprio sou assim. Já perdi as contas de quantas vezes tive que voltar pra casa quando já estava no meio do caminho só por que esqueci alguma coisa muito importante que deveria estar comigo.

            Mas agora eu já encontrei um jeito de me policiar: comprei uma agenda! Nela, escrevo tudo o que tenho que fazer, escrever, estudar, enfim, todas as minhas obrigações. Na primeira semana foi fácil me organizar. Na segunda já fui mais leviano com a agenda, a ponto de esquecê-la na biblioteca da faculdade. Voltei correndo quando me lembrei, isso quando estava já no ponto de ônibus.

            Quando contei à minha mãe meu plano de ter uma agenda, ela me disse:

- Isso não vai funcionar com você!
- Por quê? – perguntei eu, já sabendo da resposta.
- Por que você é irresponsável demais para ser responsável por uma agenda.
- Exagero da sua parte mãe.
- Ah é? Então me diz onde está sua agenda agora? – perguntou ela em tom de desafio.

            Embatuquei. Embora eu não fizesse a menor idéia de onde estava a agenda, eu não queria dar o braço a torcer.

- Não vem ao caso. Mas o que importa é que eu agora serei uma pessoa extremamente organizada. Terei todas as minhas atividades programadas.

- Ah é? Pois se não me falha a memória, a essa hora você deveria estar na aula não é?

Olhei no relógio e percebi que (claro!) mais uma vez (como sempre!) eu estava atrasado. Saí de casa correndo e pra variar, perdi o ônibus. Cheguei na faculdade já no finalzinho da primeira aula e fui logo procurar a agenda na mochila. Quem disse que eu achei? Fiquei puto.

O grande problema de pessoas que esquecem seus pertences por aí é que as outras pessoas se acham no direito de usar isso ao favor delas, sempre dizendo que somos relapsos. O que não é uma verdade propriamente dita. Afinal só esquecemos as coisas por que somos pessoas plurais, estamos constantemente conectados a várias coisas desse mundo moderno, o que faz com que não percamos tempo com coisas supérfluas. (ADOREI ESSA DESCULPA VAGABUNDA, VOU ANOTAR NA AGENDA PARA USÁ-LA DEPOIS).

Na segunda aula do dia a professora me olhou e disse:

- E aí?
- E aí! – disse eu, sem entender bulhufas.
- Você trouxe o que eu pedi?
- Oi? – disse eu, sem me lembrar do que ela tinha me pedido.
- Você lembra do que eu lhe pedi pra trazer na última aula, não lembra?

Procurei na cabeça uma lembrança de alguma coisa que ela tenha me pedido. Eu sabia que ela tinha escrito alguma coisa em relação a isso na agenda. Mas, claro, óbvio que eu não estava com a agenda comigo. Tive que assumir meu esquecimento.

- Olha professora, sinceramente não me lembro não.

Ela me olhou com aquela cara de piedade digna dos professores que sabem que vão te dar nota baixa por que você não fez um trabalho que você deveria ter feito pela milésima vez e disse:

- Eu te pedi um artigo sobre a influência da ditadura militar na produção artística-teatral dos anos 70.

Lembrei do artigo. Na verdade me lembrei do artigo que eu deveria ter feito, mas que não fiz, pelo simples fato de que eu não me lembrei de que tinha que entregá-lo hoje. Fiz aquela cara de Gato de botas do Shrek para ver se despertava a piedade dela, mas não obtive êxito. Fiquei sem a nota.

Depois dessa experiência, decidi que eu não desgrudaria mais da agenda. Cumpri o prometido por umas duas semanas. Nesse tempo fui confundido com um evangélico, já que acharam que minha agenda era uma bíblia e até consegui realizar todas as minhas atividades em dia.

Tudo ia muito bem, até o dia que eu resolvi acompanhar o povo no bar da faculdade. Conversa vai, conversa vem, bebida vai, bebida desce, acabei esquecendo a agenda em algum lugar. Acordei em casa no outro dia sem me lembrar do que acontecera na noite anterior. Resolvi abdicar desse projeto de ter agenda e assumir que sou uma pessoa relapsa.

Afinal, somos como somos por que Deus nos fez assim (desculpa vagabunda de número dois).

Fui pra rua com cara de ressaca, entrei no ônibus e quando passei a catraca, lembrei de um detalhe: esqueci a carteira em casa.


2 comentários:

  1. Os Colunáveis também é de utilidade pública... acabei de registrar em minha "agenda" que na próxima segunda terei que levar alguns ingredientes de uma lista que assinei no trabalho para uma confraternização de aniversário. O detalhe é que eu já nem estava mais lembrando.

    Pois é, meu caro Thiago com Z esses esquecimentos não são coisas de sua cabeça, rsrs.

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  2. Thiago Ribeiro, muito divertido o seu post. Além dele me lembrar de uma certa pessoa, foi escrito com muita criatividade. Embora eu seja suspeito, sou realmente ã dos seus textos, que são sempre de leitura fácil e leve.

    Parabéns!

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